sábado, 30 de dezembro de 2006

A chave que fecha outro ano

sábado, 30 de dezembro de 2006
Com o novo ano prestes a dar os primeiros passos, despeço-me do ano velho com alguma mágoa. Destes últimos dias, gozados com uma ligeira graça de férias, dei por mim num luxo que há muito não desfrutava: parar e olhar para o que aconteceu. E pela primeira vez, chorei.

Chorei porque aquilo por que tanto tinha lutado, perdi. Perdi também o sentido e tenho pela frente um caminho que terei de percorrer sozinha. Não receio o que desconheço, não receio curvas, receio apenas palmilhar caminhos sozinha.

Se em tempos tinha a certeza de ter encontrado o que queria, hoje tenho a certeza de já nada me restar desses tempos. Não me resta a confiança, não me resta a sinceridade no riso, não me resta nem a sensação de conseguir falar com alguém. Quantas vezes acontece rir mas no fundo pensar que nem sei porque o faço.

Como em muitos momentos da vida, se perguntassem se faria algo diferente, é claro que faria diferente. É claro que haveriam coisas que não repeteria, é claro que mudava outras tantas, só para preservar o que tinha. Porquê? Porque esta pausa que fiz do mundo do dia-a-dia fez com que caísse num vazio muito escuro, com paredes que reflectem aquilo que durante meses não quis ver. Pela primeira vez fecho com clareza e odeio o que vejo. Por odiar, choro. Porque neste exacto momento, enquanto chove lá fora, não sei o que fazer. Não foi este o futuro que quis para mim. Em que ponto me perdi dele, nem sei. Mas sei que não era aqui que queria estar. Não era aqui.

Aos que me conhecem, se perguntarem no novo ano se estou bem, não encontrarão outra resposta que não seja estou bem e, com sorte, um pequeno riso sustentará este argumento que encerrará a conversa. Para quem pensar que estou armada em parva, poderá ser, e apenas digo que aquilo que me resta não é bonito de ser ver, por isso até ao dia que vislumbrarem aquilo que os meus olhos vêm, pois que continuarei armada em parva.

Admito que de pouco me serve continuar a chorar, por isso aqui encerro esta sessão. Daqui a um ano, espero estar noutro ponto. Continuarei com a mágoa de que nem tudo acaba bem como nos filmes, nem todos têm direito a um final feliz, com um dueto de cordas afinadas. Há finais imperfeitos em que as cordas dos duetos simplesmente se partem.

Considerando bem, mais do que mágoa, é sabedoria. Daquela sabedoria que doi, mas mesmo assim, sabedoria.

E apesar de tudo, coisas boas entraram para o registo deste ano que acaba. Reencontrei família que julgava perdida, os mesmos tios de sempre, os mesmo primos de sempre, outros novos. Dos pequeninos aos grandes, dos eloquentes aos homens de trabalho árduo, dos que são mais afastados mas que no entanto quase vivem ao virar da esquina.

Reecontrei amigos, que das profundezas se foram erguendo e que com sinais, uns mais barulhentos que outros, deixaram ver que afinal nem tudo é mau.

Conheci novas pessoas que provaram que ainda é possível surpreender esta "velha" carcaça.

Em género de conclusão, acordarei no novo ano diferente. Mais reclusa das respostas não encontrei. Mais positiva porque daqui as coisas só poderão melhorar. Menos segura porque definitivamente, daqui para a frente, serei só eu e eu.

Voltarei no próximo ano a este meu confessionário. Daqui a dois dias, mais coisa, menos coisa.

2 had an opinion:

Unknown

Os votos que faço para mim são os mesmos que faço para ti! Que sejas muito feliz. Estarei sempre por perto. Um beijo enorme da prima que te adora.

Venuza

"A borboleta não conta meses mas sim momentos, e tem tempo suficiente", Rabindranath Tagore.
Pensa que este momento é apenas isso mesmo, um momento. Seja ele bom ao mau, é apenas um momento. Um novo dia virá, e com ele a felicidade!
Bom ano!

 
Trinity is home ◄Design by Pocket, BlogBulk Blogger Templates ► Distribuído por Templates