quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

20 mil léguas para qualquer lado - episódio 1

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007
«A PLACA QUE SE RECUSOU A COLABORAR»

20H00. Toca o telemóvel.

M: Onde estás?

T: A ir para casa. Estou a passar em frente à Cordoaria.

M: Não queres encontrar? Eu e a P vamos encontrar para combinar a viagem.

T: Ok, vou ter com vocês.

Estacionei na Avenida da Liberdade e subi, e subi e subi mais um pouquinho. Li os editais da freguesia local e um minuto depois a P estava ao meu lado e esperávamos a M, que chegou no Poopy Car, assim baptizado por ser o alvo preferido dos pombos do bairro.

Fechadas as portas, o Poopy Car acelerou em direcção ao Chiado. E a realidade abateu-se sobre nós:

M: Fofitas, vamos a Barcelona!

AP: Como?

T: Vamos para Barcelona? Mas a caminho de onde?

AP: Mota! Mota! (em jeito de pânico)

M: Isso vê-se depois! Mas temos de ser rápidas! Os voos a um cêntimo acabam amanhã.

AP: Passadeira!!! (em jeito de quem se está a ver a raspar peões da zebra)

T: Mas e o carro? Não era suposto irmos de carro?

M: Sim, mas alugamos o carro em Barcelona.

AP: Arrumador!! Arrumador!! (em jeito de quem vê um arrumador de canadianas)

T: Hum... está bem.

M: Olha, vamos já aqui ao Royale, leva-se o computador e marcam-se já os voos.

Entre arrumar o carro, pedir troco ao arrumador e compensá-lo pelo susto de ser atropelado por aquilo que ele julgava ser um assassino contratado, lembrar que falta o computador e voltar atrás...

AP: Alguém avisou a C desta alteração de última hora?

T: Ela só agora se lembrou disto. Nem sei se já a avisou que estamos a contar com ela para isto!

Fomos entrando no Royale com ar confiante. M liderou as hostes, de malita pendente no braço e mala do portátil na mão, seguida de AP e de T que nem um pio diziam com medo de despoletar alguma reacção que mudasse o itinerário. "A última coisa que queremos é ir parar a São Petesburgo", avisa baixinho a P.

Inaugurámos o período de contenção para a viagem pedindo um humilde jantarzinho. Duas tostadas de salmão e uma de frango exótico.

Enquanto esperávamos pela nossa refeição, abrimos o portátil e tentámos a ligação à world wide web. Lentamente foram aparecendo algumas letras... m u i t o l e n t a m e n t e...

M: 200 k? Isto normalmente tem 3 megas?

T: (falando para a placa) Patinadora à caixa 7!

M: Olha, abriu! Estás a ver este voo?

AP: Sim, quanto é?

M: 124 euros para as quatro.

AP: O quê? Vamos ter de apanhar o avião em Faro???

T: Depois de apanharmos o avião em Faro, o facto de termos de nos levantar às 5 da manhã é um pormenor!

Chegadas as tostadas, interregno porque a fome já é alguma. Salta o portátil para o banco e avançamos sobre os pratos.

T: Olha!... Fugiu-se-me o cherry...

M: Para onde foi?

T: Ali, no meio do chão.

AP: Estes tomatinhos são realmente uns sacaninhas!

E o combate prosseguiu. Acabada a refeição, voltámos ao computador. Mas desta vez não havia maneira da placa se ligar ao resto do mundo. M enfureceu-se mas AP e T, motivadas pela falha informática, deram asas à distracção, salpicada por algum delírio.

AP: Que disparate! Isto não é uma palhinha, é uma colher.

T: De facto, confirma-se. Que raio! Aqui no menu... chouriço de cebola?!?

AP: Viram o link que mandei? Eram umas casas rurais na Provence.

T: De certeza que eram rurais? Não eram agrícolas? Não quero chegar lá e ir trabalhar nas vinhas. Já nos estou a ver a cantar, “Podar a vinha se tu não vives satisfeito, podar a vinha estás sempre a tempo de podar!”

Esta conversa sem rumo marcou o final de noite. A placa recusou-se a colaborar. E nem mesmo quando a M e a AP desataram a falar como se tivessem caroços de azeitonas na boca, conseguiu demover esta resistência.

O primeiro encontro para resolver a viagem acabou com uma derrota. Placa 1 – Viajantes 0. O que vale é que até Março ainda falta muito tempo.

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